Como analisar as demonstrações financeiras – Análise Vertical e Horizontal

Posted by: Hideki Anagusko
Category: Diagnóstico, Finanças, Gerar resultados
Como analisar as demonstrações financeiras – Análise Vertical e Horizontal
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Ao longo da minha vida – não que me ache velho, mas já tenho alguma experiência – sempre acreditei que o principal problema ao se tentar aprender uma matéria nova, não é a matéria em si, mas quem te ensina.

E não me refiro somente aos professores, mas também aos autores que muitas vezes parecem fazer de tudo para você desistir da leitura.

Por exemplo, eu sei que para quem não é da área financeira, ler sobre a Contabilidade pode parecer um castigo – como quando seu vizinho resolve dar uma festa e passa a noite tocando funk, ou como quando sua sogra que mora em outra cidade vem passar uns dias em casa.

Mas sendo um Gestor é muito importante que você aprenda certas coisas sobre a contabilidade para poder ter um bom desempenho na gestão financeira, e consequentemente na gestão do seu negócio.

Umas dessas coisas é a Análise de Demonstrações Financeiras.

É através dela que um gestor deve se basear para tomar decisões consistentes de modo a colocar sua empresa no caminho certo.

Minha missão neste artigo é lhe apresentar a primeira técnica para se ler e interpretar aqueles relatórios chatos, cheios de tabelas e números que chamamos de demonstrações financeiras.

Prometo que vou tentar não deixar você cair no sono no meio do texto.

Pronto para começar a entender o que dizem seus números?

Então sigam-me os bons!

Introdução

Como analisar as demonstrações financeiras – Análise Vertical e Horizontal

A Análise de Demonstrações nada mais é que o exame das informações econômico-financeiras do negócio.

Esse exame envolve técnicas para avaliação de riscos, estrutura, desempenho, saúde financeira e perspectivas futuras da empresa.

A partir disso se obtém um diagnóstico que embasa praticamente todas as decisões de gestores e investidores.

Mas não somente eles. Como mostrado no artigo anterior, as informações geradas nessas análises são de muita importância para uma variedade de usuários, e cada um com objetivos diferentes.

Entre os interessados, podemos dizer que:

  • Proprietários e Gestores precisam das Demonstrações Financeiras para planejar as operações de seu negócio, tomando importantes decisões com base na análise da situação financeira.
  • Funcionários podem utilizar esses Relatórios para discutir remunerações, promoções, e até mesmo em negociações de Acordo Coletivo – no caso de sindicatos.
  • Fornecedores utilizam das informações desses relatórios para avaliar a possibilidade de conceder crédito para compras a prazo.
  • Investidores avaliam a viabilidade de investir em um negócio a partir desses documentos.
  • Instituições Financeiras se apoiam nesses relatórios para avaliar financiamentos.
  • Governo exige algumas das Demonstrações Financeiras para fins de tributação.

Métodos

Até aqui tudo bem, você já viu antes.

Mas agora chegou a hora de aprender a fazer a leitura das Demonstrações Financeiras.

E tenho uma boa notícia gafanhoto. Se você achava que era algo difícil, pode respirar aliviado pois verá que é muito mais fácil do que imaginava.

Mas, claro, preste bastante atenção.

Para se analisar as demonstrações, existem duas técnicas principais.

A primeira procura apontar tendências e apresentar a proporção de cada conta ou grupo de contas em um demonstrativo.

E é essa que vamos aprender agora.

Já a segunda, utiliza de várias ferramentas, cada uma projetada para examinar um aspecto diferente das atividades da empresa.

Para ser completa, uma análise deve contar com essas duas técnicas em conjunto, porém essa segunda fica para nosso próximo artigo.

(VEJA TAMBÉM COMO REALIZAR ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL NO EXCEL!)

Conheça agora a Análise Horizontal e a Análise Vertical

Como analisar as demonstrações financeiras – Análise Vertical e Horizontal

Análise Horizontal

O que é

Sem complicar as coisas, a Análise Horizontal é simplesmente uma técnica de comparação de uma conta ou grupo de contas de um demonstrativo sobre uma série de períodos.

Para que serve

A sua finalidade é verificar a variação da conta ou grupo de contas nesta série de períodos, de forma a apresentar sua evolução no tempo e indicar tendências.

Por isso também é conhecida como Análise de Tendência.

Como funciona

Essa técnica pode ser aplicada em todos os demonstrativos, porém o que mais importa mesmo é descobrir as tendências no Balanço Patrimonial e na Demonstração de Resultado do Exercício.

Leia Também  O que você precisa saber sobre Planejamento na Gestão de Negócios

Agora, se ela mede a evolução no tempo, então obrigatoriamente precisamos ter as demonstrações de pelo menos dois períodos – de preferência demonstrações anuais.

O primeiro ano – exercício – é o que chamamos de “ano-base” ou “data-base”, pois será o ponto de partida para os cálculos, e terá atribuído como índice o valor 100.

Assim, cada item analisado começará com seu valor atrelado ao índice de 100, e qualquer alteração nesse valor refletirá a variação no ano seguinte – calma que você já vai entender.

Bem, sabendo das regras, vamos brincar um pouco. A fórmula aqui é:

Δh = y X 100
x

Onde:

Δh = Variação na Análise Horizontal

y = Valor do Item no demonstrativo no Ano Atual

x = Valor do Item no demonstrativo no Ano Base

Não se assuste, é simples! Observe esse exemplo:

Demonstração de Resultado
Ano 1 AH% Ano 2 AH% Ano 3 AH%
Receita bruta de vendas 45.494 100 45.470 99,95 48.424 106,44
Custos das merc. vendidas 17.281 100 15.686 90,77 17.239 99,76
Lucro bruto 15.180 100 15.585 102,67 16.274 107,21

(Quadro adaptado do livro Contabilidade – Noções para Análises de Resultados e Balanço Patrimonial da Empresa – de Antonio Salvador Morante)

Essas colunas AH% correspondem à variação percentual na Análise Horizontal. Veja que no primeiro ano – o Ano Base – todos os itens tem seu valor equivalente à 100%. Para calcular essa variação nos anos seguintes, aplicamos a fórmula e temos então:

Δh = 45.470 X 100 = 99,95
45.494

 

Δh = 15.686 X 100 = 90,77
17.281

 

Δh = 15.585 X 100 = 102,67
15.180
[Repita o cálculo para todos os itens]

 

Perceba que ao compararmos a Receita Bruta de Vendas do Ano 2 (45.470) com a do Ano 1 (45.494) temos um resultado de 99,95%.

O que isso quer dizer?

A leitura é muito simples gafanhoto. Como eu disse, cada item analisado inicia com seu valor atrelado a 100 – o que chamamos de Valor Base 100 – então qualquer resultado superior a esse número é um aumento, enquanto que qualquer resultado inferior é uma redução.

Neste caso, a comparação da Receita Bruta de Vendas do Ano 2 com a do Ano 1 sofreu uma redução de (-) 0,05% (99,95 – 100).

Por outro lado, este mesmo item no Ano 3 apresentou um aumento de (+) 6,44% (106,44 – 100) na comparação do Ano Atual (48.424) com o Ano Base (45.494).

Interpretação

Esse exemplo é muito resumido, e vale ressaltar que para ter relevância é imprescindível sua consideração em conjunto com a análise vertical, pois além de se verificar a evolução no tempo, deve-se ponderar o peso relativo – importância – de cada item em análise.

Agora, fazendo a leitura desse nosso exemplo, podemos observar que nesses três anos a Receita Bruta de Vendas está crescendo mais rápido que o Custo das Mercadorias Vendidas. Isso poderia indicar uma tendência de aumento do Lucro Bruto ao longo do tempo.

Observações Importantes

Um problema muito comum nesta análise é que a agregação de informação nas demonstrações financeiras pode sofrer alterações ao longo do tempo em decorrência de mudanças no plano de contas da empresa.

Com isso, receitas e despesas, ativos e passivos podem alternar entre diferentes contas, causando variações equivocadas na comparação de um período para outro.

Uma recomendação importante é a de que as contas pouco representativas sejam agregadas em grupos maiores – até para que a análise não fique tão complexa.

Outra coisa a salientar é que mesmo um item tendo maior variação que outro – seja para mais ou para menos – ao longo do tempo, somente avaliando em conjunto com a Análise Vertical é possível entender seu real impacto, uma vez que cada item tem um peso diferente na composição do total.

Análise Vertical

O que é

Também sem muito rodeio, a Análise Vertical é nada mais que uma técnica de verificação da proporção percentual de cada item na demonstração financeira.

Por isso também é conhecida como Análise de Proporção.

Para que serve

Sua finalidade é identificar a representatividade de cada item de uma demonstração financeira, de forma a apresentar seu peso relativo na composição de um total tomado como base.

Leia Também  Análise de Viabilidade Econômica: Tudo o que você precisa saber sobre a TIR

Como funciona

Essa técnica também pode ser aplicada em todos os demonstrativos, mas, assim como a análise horizontal, na posição de gestor o que importa mesmo é descobrir as proporções no Balanço Patrimonial e na Demonstração de Resultado do Exercício.

Agora, se a ideia é verificar a proporção percentual de cada item em relação a um total tomado como base, primeiro você precisa saber qual seria essa base, não é?

Bem, essa base – que chamamos de Valor Base – refere-se ao seguinte:

 

  • No Balanço Patrimonial

Total do Ativo – para todas as contas do ativo.

Total do Passivo + Patrimônio Líquido – para todas as contas do passivo.

  • Na Demonstração de Resultado do Exercício

Receita Bruta ou Receita Líquida – sim, você pode usar a receita bruta ou a receita líquida. E devo dizer que muitos analistas preferem essa segunda opção, mas ao fazer isso você deixa de perceber o impacto de Deduções/ Impostos Incidentes sobre seu total. Desta forma você acaba não dando a devida importância à Gestão Tributária (TAX) em seu negócio.

O Valor Base é o nosso total e, portanto, terá atribuído o índice de 100. A partir dele passamos a relacionar proporcionalmente os itens abaixo – em sentido vertical.

Para isso usamos a seguinte fórmula:

Δv = a X 100
b

 

Onde:

Δv = Variação na Análise Vertical

a = Valor do Item no demonstrativo no Ano Atual

b = Valor Base

 

Calma, continua fácil! Vamos para outro exemplo:

Demonstração de Resultado
Ano 1 AV% Ano 2 AV% Ano 3 AV%
Receita bruta de vendas 45.494 100 45.470 100 48.424 100
(-) Deduções/Imp. incidentes 13.033 (-) 28,65 14.199 (-) 31,23 14.911 (-) 30,79
(=) Receita líquida de vendas 32.461 (=) 71,35 31.271 (=) 68,77 33.513 (=) 69,21
(-) Custos das mer. vend. 17.281 (-) 37,99 15.686 (-) 34,50 17.239 (-) 35,60
(=) Lucro bruto 15.180 (=) 33,37 15.585 (=) 34,28 16.274 (=) 33,61
(-) Despesas operacionais 15.718 (-) 34,55 15.778 (-) 34, 70 16.147 (-) 33,35
(=) Lucro Antes do IR (538) (=) -1,18 (193) (=) – 0,42 127 (=) 0,26
(-) Provisão IR e CS 0 (-) 0 0 (-) 0 22 (-) 0,05
(=) Lucro líquido (538) (=) -1,18 (193) (=) – 0,42 105 (=) 0,22

(Quadro adaptado do livro Contabilidade – Noções para Análises de Resultados e Balanço Patrimonial da Empresa – de Antonio Salvador Morante)

 

Curiosidade

Como costumamos fazer arredondamentos, às vezes podemos encontrar coisas estranhas, como no exemplo da AV% do Lucro líquido no ano 3.

Repare que o lucro antes do IR é 0,26 e que a provisão do IR e CS é de 0,05.

Então, teoricamente o lucro líquido deveria ser de 0,21 não é?

Bem, acontece que o valor do lucro líquido (105) dividido pelo valor base (48.424) multiplicado por 100 corresponde a 0,21684362. Mas como o 0,216 fica mais perto de 0,220 do que de 0,210 seu arredondamento o torna 0,22.

Aliás, o próprio 0,05 já é um arredondamento do que seria 0,04543202 – assim como outros valores percentuais vistos aí.

Entendeu?

 

Essas colunas AV% correspondem à variação percentual na Análise Vertical. Veja que em nosso exemplo o Valor Base é a Receita Bruta de Vendas, que equivale a 100.

Para calcular a proporção dos itens abaixo dela, aplicamos a formula e temos então no primeiro ano:

Δv = 13.033 X 100 = 28,65
45.494

 

Δv = 32.461 X 100 = 71,35
45.494

 

Δv = 17.281 X 100 = 37,99
45.494
[Repita o cálculo para todos os itens]

 

Perceba que iniciando com a Receita Bruta como Valor Base, ao aplicarmos a fórmula temos um resultado de 28,65 para Deduções/Impostos Incidentes.

O que isso quer dizer?

É muito simples gafanhoto. Isso significa que o item Deduções/Impostos Incidentes consome 28,65% da sua Receita Bruta de Vendas.

Consome pois, como já vimos neste artigo sobre as Demonstrações Financeiras, a DRE é elaborada de forma dedutiva, ou seja, se começa com a receita e vai se deduzindo os custos até chegar ao lucro líquido.

No caso de um Balanço Patrimonial, esse percentual indicaria quanto determinado item representa na composição total do ativo ou passivo em questão.

Interpretação

Está vendo esse Lucro Líquido de -1,18 no ano 1, e de -0,42 no ano 2? Pois é, entenda que se você quiser alcançar um resultado positivo, terá que tirar essa diferença em algum lugar.

Esses lugares podem ser as Deduções de Impostos, que não é tão simples, mas que pode ser feita através de uma boa Gestão Tributária (TAX); os Custos das Mercadorias Vendidas, com muita atenção para fornecedores e estoques; e as Despesas Operacionais, principalmente as despesas financeiras.

É claro que aumentar as receitas sempre é bom, mas perceba que mesmo tendo um aumento monetário considerável no ano 3 (48.424) em relação ao ano 2 (45.479), o Lucro Bruto no ano 2 (34,28%) foi maior que no ano 3 (33,61), devido aos Custos das Mercadorias Vendidas terem sido maiores no ano 3 em relação ao 2.

Em compensação, a empresa conseguiu reduzir significativamente as Despesas Operacionais no ano 3, tirando a diferença que eu falei, e alcançando seu primeiro resultado positivo.

Ou seja, através dessa análise você pode verificar onde deve buscar corrigir suas operações para obter o resultado desejado.

Observações Importantes

Assim como na Análise Horizontal, mudanças na agregação de informações das demonstrações financeiras em decorrência de alterações no plano de contas da empresa podem resultar em variações equivocadas entre os períodos.

Fique atento a qualquer mudança nas classificações dos itens entre as contas – em especial no Balanço Patrimonial e na Demonstração de Resultado do Exercício, que são as mais importantes aqui.

Conclusão – Considerações Finais

conclusão - analise vertical e horizontal

Eu sei gafanhoto, essa matéria não é lá tão legal para quem não vem da área financeira, não é mesmo?

Mas veja que bacana, se chegou até aqui já aprendeu não somente o que são as demonstrações financeiras e de onde vêm as informações que às fomentam, como também já sabe agora como fazer uma primeira leitura básica!

Neste artigo eu juro que busquei simplificar ao máximo as coisas para facilitar o entendimento. Mas todo o essencial do que você precisa saber sobre Análise Horizontal e Vertical foi apresentado ao longo desse texto.

Não mostrei nenhum exemplo com o Balanço Patrimonial pois uma vez que a aplicação é praticamente igual em qualquer demonstração, achei melhor não encher tanto a sua cabeça.

No próximo artigo apresentarei a segunda técnica para análise das demonstrações, onde utilizamos índices para medir o desempenho de determinados aspectos econômico-financeiros da empresa.

Depois que você conhecer os principais índices, vamos estudar o uso dessas duas técnicas juntas em um exemplo de caso.

VEJA AGORA COMO REALIZAR ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL NO EXCEL!

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Author: Hideki Anagusko
Consultor em Finanças Empresariais há mais de 10 anos. Eu transformo desafios financeiros em oportunidades de sucesso para PMEs.